quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Um cachorro na entrevista



Rodar a cidade de São Paulo a procura de emprego é uma tarefa árdua. Imagine, então, quando essa tarefa é acrescida ao fato de você ser recebida pelo coiote da empresa, no caso, um lhasa apso bem mau encarado. Já li inúmeros estudos que apontam o quanto os bichos de estimação fazem bem ao ambiente de trabalho, contribuindo para produtividade dos funcionários e blábláblá. Por mais que eu não concorde com esse tipo de procedimento por parte dos donos das empresas, quem sou eu, mísera peona em busca do lerê-lerê de todos os dias? E sigo em frente. Toco a campainha. Ninguém atende. Toco novamente. Uma senhora atende o interfone e, ao invés de falar olá, diz: “-Dá uma licencinha que vai sair um carro, por favor?”. Eu pergunto a ela: “-Posso entrar assim que o carro sair?”. Fico no vácuo. Tu-tu-tu-tu. Entro sem pensar duas vezes. No corredor, o bendito coiote com sua mandíbula inferior avançada (não dou sorte com os lhasas. Minha cunhada tem um que vive latindo pra mim, principalmente quando coloco meu pijama laranja). Só que, nesse caso, os latidos me deixaram sem graça ao invés de irritada. Quem sabe se o cachorro é uma prova de contratação, ou não, do novo funcionário e o número de latidos tem significado especial!? Por exemplo: cinco latidos e a pessoa não presta; quatro latidos e a pessoa presta só um pouquinho; três latidos e ela se torna suportável; dois latidos quer dizer que a cor do sapato não combina com o modelito; e um latido é charme, aquele tipo que é pra chamar atenção. Sei lá! Ainda tentei fazer um nhenhenhem com o bichano. O que recebi em troca foi mais latinos. E ainda dizem que a raça pertencia aos nobres e monges do Tibet. Pergunto: como é que eles conseguiam meditar? Foi então que resolvi ficar parada até que alguma boa alma viesse me salvar. Alguém, alguém? Eis que surge a senhora do interfone que, sem olhar pra minha cara, foi logo pegando o cão, enquanto murmurava algo como “malvado, malvado, malvado… vou te deixar trancado”. O passo seguinte, além de esperar o entrevistador, foi tentar captar a quantidade de câmeras que tinha presenciado aquela cena toda. Será que alguém viu? Será que o cão coiote aprovou a minha entrevista?

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