Eu me lembro que eu gostava daquela rua, indo para o trabalho. Andava duas quadras, olhava as vitrines e, às vezes, parava na padaria pra comprar uma água com gás. A volta era um pouco assustadora, porque tudo ficava escuro e eu tinha medo que alguém estivesse escondido atrás de uma das árvores para me amedrontar. Ou me assaltar de verdade. Conversei com uma antiga colega de trabalho (que acabou se tornando mais do que isso ao longo do tempo) durante alguns minutos. Nesse exato momento vivo uma modesta nostalgia dos bons tempos, das pessoas do bem e, sem querer, lembrei de andar por aquelas duas quadras arborizadas. Passava também por um colégio, onde tive o prazer de participar de um workshop da Nova Regra Ortográfica em companhia de outras pessoas que precisam se familiarizar com a falta do acento aguda na palavra ideia. Do outro lado da rua, havia uma costureira que cobrava (e ainda deve cobrar) os olhos da cara pra fazer uma barra de dois dedos em uma calça jeans. Aliás, me arrependo tanto de ter levado a minha velha e surrada! Ficou curta e nunca mais pude usar. Nesse momento, a saudade corre solta. De uma época que vivi o meu lado mais responsável, mais sarcástico, mais de um bando, mais da palhaçada, mais crítica e mais adulta. De todas as ruas que passei até hoje, aquela é a única que eu quero voltar. Estou me preparando. A cada dia.
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