Li ontem esse texto e achei fenomenal. Não pensei duas vezes em compartilha-lo aqui, com os leitores e leitoras do Cá Aqui. Seção Trechos e Pedaços.
PRINCESAS, FADAS E CALEIDOSCÓPIOS
Até os anos 1950, o número de mulheres de todas as camadas sociais que conseguiam atingir a universidade era pequeno. Na década seguinte, no entanto, energizadas pela necessidade de oportunidades iguais, elas fizeram uma doce invasão na academia. Num primeiro momento, como alunas atentas e dedicadas, para depois se tornarem professoras, coordenadoras, diretoras e retoras, e abrirem definitivamente as portas da instituição. Hoje, a maioria das universidades brasileiras já ostenta mais alunas do que alunos.
A mulher consumidora é um agente econômico com renda e vontade próprias que faz do ato de consumir uma celebração da vida e do prazer.
Algumas procuram ser iguais aos homens. Bobagem. Jamais serão porque são melhores. Além do mesmo potencial de inteligência, as mulheres ganham de goleada quando o tema é emoção, sensibilidade, imaginação, intuição. Com a licença poética que um artigo proporciona, imagino haver pelo menos três tipos de consumidoras de bens e serviços de luxo.
As primeiras são as “princesas”. Elas têm porte elegante, procuram seguir os rituais sociais em sua integridade. Dotadas de elevada sensibilidade, percebem como poucas os elementos simbólicos e imateriais agregados aos produtos. Miram o melhor de cada segmento. Não se importam com o preço e raramente pedem desconto. Por serem naturalmente elegantes, dão muito valor a produtos atemporais. Prezam a qualidade e a durabilidade e raramente se aventuram a adquirir produtos duvidosos, de procedência desconhecida, ou subprodutos de sonegação. Para elas, a attitude de consumo deve ser elegante, como elegante também é a maioria das atitudes de suas vidas.
O outro grupo é composto das “fadas”. São seres mágicos, que se manifestam por meio da imensa capacidade de garimpar compras impossíveis e combiná-las de forma surpreendente. Mais do que marcas, valorizam experiências. Avessas à exibição, preferem os endereços exclusivos, os artesãos talentosos, o bom gosto genuíno, os materiais inusitados. Quando se apresentam publicamente, o ambiente se enche de mistério. Poucos conseguem identificar o mix das aquisições, sua origem, sua data, sua proposta. Mas geram, no entanto, um clima de empatia e encantamento. Apesar de bem aquinhoadas economicamente, o ticket médio de suas compras é sensivelmente inferior ao das “princesas”. Mas os resultados são muito semelhantes. Sedutoras, as “fadas” costumam gerar uma miríade de admiradoras. Encantadas, estas admiradoras assumem um comportamento imitativo desses seres místicos. Neste sentido, podemos dizer que elas são capazes de criar estilo e antecipar tendências.
A última categoria é formada pelas “caleidoscópios”. São consumidoras que mudam ao sabor dos acontecimentos. Os grandes farois a lhes guiar o comportamento são a beleza e o risco. Belas por dentro e por fora, não exitam um só minuto antes de autorizar o cabeleireiro a destruir um cabelo que durou meses para ser conseguido. Mutantes, compram e combinam roupas e objetos de categorias diferentes e ostentam um visual que intriga e desafia. Um dia, vestem-se como meninas e se adornam com delicadas flores entre os cabelos. Numa noite, num passe de mágica, com maquiagem forte e jóias pesadas, parecem figurar entre as musas que celebrarão os novos tempos. As “caleidoscópias” compram muito para aplacar um sentimento difuso que lhes abrasa o peito. E esse consumo, aparentemente desenfreado, esconde a exuberância e a riqueza dos que buscam a beleza.
Para poupar nossos leitores das misérias humanas, omiti, deliberadamente, um pequeno conjunto de consumidoras que, em vez de celebrar o prazer e a vida, prefere adquirir bens com o intuito de ostentar, humilhar, diminuir, imitar e denegrir. Não existe nada mais cafona do que um comportamento desses.
Agora, se você conhece uma mulher que possua concomitantemente todas essas características, pode ter certeza de que conhece um anjo.
Fonte: revista Wish Report
Pois é professor, então, sou quase um anjo. Falta-me somente o poder econômico das três espécies. Amei as partes em que você comenta de modo tão cavalheiro sobre a nossa doce invasão na academia e que jamais serenos iguais aos homens, porque somos melhores. Amei sua fala. Encantadora!
ResponderExcluirProfessor Silvio, cá estou novamente, pois na verdade me encantei com o têxto e postei o comentário esquecendo-me do por que cheguei ao seu têxto. Em minha busca de informações, soube que o senhor exerce funções de magistério desde 1973. O senhor poderia me dizer, por favor, se conheceu um professor do curso de arquitetura que deu aula na instituição durante anos, e, inclusive depois que sofreu um avc, mas, ainda tomado pela paixão por sua profissão, enfrentou um exame de doutorado e foi bem sucedido. Me refiro ao professor Wilson Nívio Tessitore, que já há quase 10 anos não está mais entre nós. O senhor o conheceu?
ResponderExcluir