segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Um lugar neutro



Eu precisava muito de um momento de relaxamento em alguma janela do dia. Depois de ficar a manhã inteira enfurnada no cliente que fez de um rough indecente o briefing de toda a campanha de um novo produto, eu mereço esfriar a cabeça antes de xingar todos de burros e incompetentes. Pois é, as coisas acontecem dessa maneira na grande maioria das vezes. Eu precisava de um alívio e resolvi agradecer o convite do almoço e sair correndo antes que falassem que faziam questão. Você acha que eu almoçaria falando de mais trabalho logo após 4 horas incessantes e mal aproveitadas? Tô fora! Cheguei na agência e, o mesmo pé que entrou, saiu para respirar e comer alguma coisa urgente. Mas, como tem dias que parece que o diabo está a fim de caçoar, sentei com meu prato de carboidratos (afinal, Deus é pai e fui liberada para ingerir carbos na primeira grande refeição do dia), um outro menor com pedaços de abacaxi e um assunto na mesa ao lado que chamou minha atenção. Era um homem despedindo sua funcionária. Pelo o que entendi, ele é dono de uma corretora de imóveis e, segundo ele, sua mais nova ex-funcionária não tinha o perfil de vendas que ele tanto acha fundamental. Até aí, tudo bem. Mais uma que faria parte do grupo de desempregadas desse país que não tem dó de sua gente. Porém, as frases que saíam da boca da mulher me deixavam intrigadas: “Essa nossa conversa está muito estranha”; “Tem alguma coisa que o senhor quer falar além disso?”; “Parece que o senhor está escondendo alguma coisa”; “Por que o senhor não percebeu isso nos meus 3 primeiros meses de trabalho?”; “Isso está me cheirando a fofoca”. Ele apenas voltava ao assunto de que ela não tinha o perfil agressivo, que ela não tinha uma frequência de visitas como os outros corretores, que ela não havia vendido nada no último mês e blá blá blá. A mulher olhava para ele incrédula, sempre pedindo para que ele abrisse o jogo, pois, na visão dela, estava indo muito bem, afinal, não era ela a única a não vender nada no último mês. O cara estava irredutível. Quanto mais ela pedia para ele abrir o jogo, mais ele balançava a cabeça. Até que, cansado, disse que SIM, que algumas pessoas não gostavam dela, a achavam preguiçosa demais, pois nem o capital ela era capaz de incluir na planilha (seja lá o que for que isso queira dizer). Só depois dessa sinceridade (vai saber quanto tempo eles já estavam lá - quando sentei, os pratos e copos já estavam limpos) é que ela se levantou e disse:
- Agora entendo porque o senhor não vai aceitar qualquer argumento que eu dê. Volto a falar, não faço e não farei parte de panelinhas no trabalho. Por mais que eu não saiba o que fazer, eu posso ir, tudo bem.
No mínimo, o homem sabia que suas desculpas não seriam aceitas. Com medo de que a mulher pudesse dar um escândalo (vai saber o grau dos hormônios naquele bendito dia), a levou para um lugar neutro que não faria diferença alguma, afinal, quando um bando se junta para derrubar algum profissional, dificilmente a vítima fica. E, se fica, os ferimentos jamais cicatrizarão.

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